André Gleissner morreu depois que um carro avançou contra a multidão que fazia compras na feira natalina de Magdeburg. Muitas pessoas compareceram ao local d...
André Gleissner morreu depois que um carro avançou contra a multidão que fazia compras na feira natalina de Magdeburg. Muitas pessoas compareceram ao local do ataque para deixar flores em homenagem às vítimas Reuters A morte de um menino de nove anos no ataque a uma feira de Natal na Alemanha, na noite da última sexta-feira (20), gerou comoção — provocando uma série de homenagens e gestos de solidariedade. André Gleissner morreu depois que um carro avançou contra a multidão que fazia compras na feira de Natal de Magdeburg, conforme informou o Corpo de Bombeiros local. Quatro mulheres ainda não identificadas, de 45, 52, 67 e 75 anos, também morreram no ataque, e pelo menos 200 pessoas ficaram feridas — algumas delas em estado grave. Uma cerimônia em memória das vítimas foi realizada na catedral da cidade na noite de sábado (21), com a presença do chanceler alemão, Olaf Scholz, do presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, e da ministra do Interior, Nancy Faeser. Um suspeito está sendo mantido em prisão preventiva pelas autoridades sob diversas acusações de homicídio, tentativas de homicídio e lesões corporais perigosas. Alemanha em busca respostas: o que se sabe sobre ataque a feira de Natal Bombeiro mirim A polícia coletou evidências do carro usado pelo suspeito Getty Images/via BBC Uma postagem nas redes sociais, supostamente atribuída à mãe de André, chamava o menino de "meu ursinho de pelúcia" — e dizia que ele "sempre viverá em nossos corações". "André não fez nada a ninguém. Ele só esteve conosco na Terra por nove anos... por quê... por quê? Eu não entendo", ela escreveu. E concluiu: "Você sempre viverá em nossos corações... eu prometo". Outra homenagem a André foi feita pelo Corpo de Bombeiros da cidade vizinha de Schöppenstedt. Em comunicado, eles afirmaram que o menino era membro da brigada de incêndio mirim de Warle, que fica a cerca de uma hora de carro de Magdeburg. A brigada de incêndio mirim é uma organização juvenil aberta a crianças de seis a 12 anos interessadas no trabalho dos bombeiros. "Nossos pensamentos estão com os familiares de André, que também queremos apoiar neste momento difícil", diz o comunicado. A brigada de incêndio mirim da Baixa Saxônia também prestou uma homenagem a André. "Nossas condolências vão para sua família, seus amigos e todos que eram próximos a ele", afirmaram em comunicado. "Estamos ao lado deles neste momento difícil, e manifestamos nossa mais profunda solidariedade." Uma campanha de arrecadação de fundos online, supostamente criada para angariar doações para a família de André, recebeu mais de 60 mil euros (R$ 380 mil) até agora. Como foi o ataque Além de provocar cinco mortes, o ataque deixou pelo menos 200 pessoas feridas, sendo algumas em estado grave. O carro avançou contra o mercado lotado por uma via de acesso para veículos de emergência por volta das 19h (horário local) de sexta-feira, segundo a polícia. Testemunhas contaram como conseguiram escapar do carro se jogando para fora da via, fugindo ou se escondendo. Imagens não verificadas publicadas nas redes sociais mostram o veículo passando em alta velocidade por uma passagem para pedestres entre as barracas. A polícia informou que o motorista posteriormente retornou à rodovia, e foi forçado a parar no trânsito, onde foi preso. Cerca de 100 policiais, médicos e bombeiros compareceram ao local do ataque para atender as vítimas, segundo autoridades municipais. Quem é o suspeito O suspeito foi identificado pela imprensa local como Taleb al-Abdulmohsen, de 50 anos, um psiquiatra nascido na Arábia Saudita que chegou à Alemanha em 2006. O motivo do ataque ainda não está claro, mas as autoridades dizem acreditar que o motorista agiu sozinho. Al-Abdulmohsen chegou à Alemanha em 2006 — e foi reconhecido como refugiado em 2016, após se declarar ateu e pedir asilo. Ele administrava um site destinado a ajudar outros ex-muçulmanos a fugir da perseguição em seus países de origem. De acordo com a imprensa local, o suspeito trabalhava desde março de 2020 como psiquiatra em uma clínica especializada na reabilitação de criminosos dependentes de drogas em Bernburg, a cerca de 40 quilômetros ao sul da cidade onde ocorreu a tragédia. "Desde o fim de outubro de 2024, ele tem estado ausente por motivo de férias e doença", informou o centro de saúde em comunicado. A agência de notícias Reuters publicou que o suspeito morava em uma rua tranquila no centro de Bernburg, uma cidade de 30 mil habitantes, em um prédio de três andares. Uma autoridade que falou sob condição de anonimato com o jornal americano Washington Post disse que a polícia estava revistando a casa do suspeito — e acreditava que ele poderia estar sob a influência de drogas no momento do ataque. Possíveis motivações O suspeito não tem vínculos conhecidos com o extremismo islâmico. Na verdade, suas redes sociais e publicações parecem sugerir que ele criticava o Islã. Em um documentário da BBC de julho de 2019, ele aparece falando sobre a criação da plataforma wearesaudis.net, por meio da qual apoiava outros ex-muçulmanos perseguidos. Nestas entrevistas, segundo a Reuters, o suspeito criticava fortemente o Islã. Além disso, em junho do mesmo ano, ele disse ao jornal alemão FAZ: "Não existe Islã bom". A ministra do Interior, Nancy Faeser, não quis comentar sobre as motivações ou afiliações políticas de al-Abdulmohsen, mas reconheceu que sua islamofobia era bastante "evidente". Já o procurador local de Magdeburg, Horst Nopens, afirmou que um possível fator no ataque pode ter sido a "insatisfação do suspeito com o tratamento dado aos refugiados sauditas na Alemanha". "Ele é uma pessoa psicologicamente perturbada com um senso exagerado da sua própria importância", disse Taha Al-Hajji, diretor jurídico da Organização Saudita Europeia para os Direitos Humanos, com sede em Berlim, à agência de notícias AFP. "Não se trata de forma alguma de um ataque com motivação islâmica", acrescentou. Hajji disse à AFP que, apesar do apoio que dava aos sauditas que solicitavam asilo na Alemanha, al-Abdulmohsen era considerado "um pária" naquela comunidade. A mesma agência de notícias informou que, em agosto passado, o suspeito publicou uma mensagem perturbadora nas redes sociais. "Existe um caminho para a justiça na Alemanha sem explodir uma embaixada alemã ou massacrar aleatoriamente cidadãos alemães? Estou procurando um caminho pacífico desde janeiro de 2019, e não o encontrei. Se alguém souber, por favor, me avise." Na mesma postagem, ele questionou o que considerava "crimes cometidos pela Alemanha contra refugiados sauditas e obstrução da justiça, por mais provas que fossem apresentadas". De acordo com a imprensa local, os perfis de Al-Abdulmohsen nas redes sociais também oferecem algumas pistas sobre suas afiliações políticas e ideológicas. Em várias de suas publicações, ele manifestou apoio ao partido de direita radical anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD). Além disso, de acordo com a Reuters, o suspeito tornou público seu apoio a ideias defendidas pelo bilionário americano Elon Musk, que tem sido um crítico do chanceler alemão, Olaf Scholz. Advertências prévias As autoridades alemãs estão enfrentando uma série de questionamentos em relação à segurança após ter sido divulgado que foram avisadas no ano passado de que o suspeito poderia representar uma ameaça. O Ministério das Relações Exteriores saudita afirmou que alertou o governo alemão sobre as visões extremistas de al-Abdulmohsen, mas não obteve resposta. Mais tarde, o chefe do Departamento Federal de Polícia Criminal (conhecido como BKA), Holger Münch, disse à emissora pública ZDF que seu escritório havia recebido uma notificação da Arábia Saudita em novembro de 2023. Ele afirmou que a polícia local havia tomado as medidas investigativas apropriadas, mas o assunto não era específico. E acrescentou que o suspeito "havia tido vários contatos com autoridades, as insultou e até fez ameaças, mas não era conhecido por atos violentos". Segundo ele, as investigações anteriores precisariam ser revisadas.